terça-feira, 10 de maio de 2011

Entrevista - Frank Gambale

"Sempre me ví mais como um músico e não somente como guitarrista", diz Frank Gambale. "Muitos ficam satisfeitos em apenas tocar apenas seus licks de blues - mas eu não. Não me encaixo na 'regra'. "Gosto de encontrar soluções radicais e musicais na guitarra". A maior solução de gambale foi levar o sweep picking a níveis nunca imaginados. Ele lançou livros e vídeos didáticos que tornaram seu nome sinônimo desta técnica.

O guitarrista também criou uma nova afinação chamada Gambale (A,D,G,C,E,A, do grave ao agudo), que facilita a execução de aberturas de acordes do tipo cluster - como as de piano -, que ele diz serem quase impossóveis de se fazer em uma guitarra em afinãção padrão. Seu álbum de 2004, Raison D'Etre, mostrou a afinação Gambale. O músico ainda lançou mais de 20 álbuns-solo e foi membro de vários grupos importantes, incluindo a Alektric Band de Chick Corea e o Vital Information. Seu mais recente trabalho-solo. Natural Selection, traz o guitarrista em uma veia um pouco mais suave, com um timbre jazzistico limpo e quente e sem a presença de bateria. Darrin Fox da Guitar Player Americana conversou com o virtuose.

GP: Escutei Natural Selection algumas vezes até perceber que não havia bateria no disco.
Adoro bateria e trabalhei com alguns dos melhores bateristas do mercado. Mas a música atual, especialmente pop e jazz, têm baterias sonoramente muito pesadas. Por exemplo, coloque um CD de rock moderno ou de Jazz no volume máximo - tudo o que você vai ouvir é a bateria! Ela pega uma quantidade enorme do espectro de áudio. Em Natural Selection, eu queria que a guitarra, o baixo e o piano tivessem mais espaço na música.

GP: Se timbre é limpo por todo o disco.
Gosto de guitarra distorcida e vou voltar a ela em breve, mas, para este disco, eu quis um som limpo e sem efeitos. Usei uma guitarra jazz Yamaha AES1500 com um jogo de cordas lisas (flatwounds) D'Addario Chrome 0.10. Pluguei a guitarra em uma amplificador ERA, feito na Alemanha. Para jazz, as cordas lisas possuem o melhor som. Para meus ouvidos, as cordas com cobertura arredonda soam erradas em uma guitarra de jazz. Elas não possuem a quantidade certa de ataque.

Você usou a afinação Gambale no disco?
Não. Essa afinação é particularmente designada para tocar chord melody, e não improvisações lineares, que é o que faço no novo álbum. Ao vivo, no entanto, toco uma double-neck e assim posso ter ambas as afinações disponíveis. A afinação foi uma revelação. Eu tinha desistido de fazer clustersharmonicamente densos na guitarra porque eram uma impossibiliade física. Mas eu estava brincando com um programa de afinação Nashiville em um Roland VG-88 alguns anos atrás e tive a ideia de desenvolver essa afinação, na qual a guitarrainteira é afinada uma quarta acima, mas as duas cordas agudas estão uma oitava abaixo.

GP: Que espessura de cordas você usa nessa afinação.
Utilizo um jogo com espessura .010 nas quatro cordas graves, começando pela corda A. Para as duas cordas agudas, uso as cordas D e G de um jogo .009. Portanto, as espessuras sâo .036, .026, .017, .013, .024 e .016. A vantagem dessa afinação é que você pode tocar os mesmos desenhos com os quais você está acostumado, diferentemente de uma afinação alternativa como D aberto ou DADGAD, nas quais os desenhos em afinação padrão não servem mais para nada e você tem que reaprender tudo. em minha afinação, você toca, digamos, um desenho de acorde de D, ele ainda é uma tríade maior.

GP: Você acha que a associação de seu nome com o sweep picking às vezes faz sombra para sua música?
Sim, fico frustrado quando as pessoas pensam somente como um tecnico e desprezam o conteúdo músical. Nunca pratiquei apenas técnicas. O sweep picking foi uma evulção nascida do desejo de tocar licks de outros instrumentos, como o piano e o saxofone. A música é o objetivo número um - é sagrada - e não se resume aos seus aspectos técnicos. dediquei grande parte da minha vida explorando todas as possibilidades do sweep picking, portanto, entendo por que as pessoas chegam para mim para falar de técnica. Para mim, o sweep picking quebrou algumas barreiras físicas da guitarra. Posso tocar em qualquer velocidade, sem limites. A analogia que uso é a seguinte: quando você esta tocando rápido com palhetada alternada, é como um carro com somente com quatro marchas percorrendo uma estrada a 100 Km\h, acelerando bastante e chacoalhando; fazer sweep é como ter uma quinta ou sexta marcha, avançando rápido e sem difículdade.

GP: O que você considera o maior problema com a técnica de outros guitarristas?
Os maiores problemas em adquirir velocidade acontecem por não segurarem a palheta no ângulo correto e usar uma palheta pesada demais. Se a palheta for pesada demais, é como andar de carro sem amortecedores - o plástico deve flexionar um pouco e absorver um pouco de ataque. É também importante manter a palheta em um ângulo de 45 graus. Dessa maneira, há menos resistência entre a corda ea palheta. Não existe nada natural em segurar uma guitarra. Quando você segura, o seu braço fica sobre a guitarra em um ângulo de 45 graus, então essa é a posição mais natural. Quando você coloca uma palheta na mão, é importante manter esse ângulo em relação às cordas.

GP: Você experimenta diferentes palhetas?
Sim, descobri que palhetas maiores, são mais ergonômicas. Elas se encaixam melhor na parte superior do dedo indicador, proporcionando mais estabilidade. Durante quase 35 anos, usei palhetas heavy D'Addario/Planet, mas eles pararam de fabricá-las. Ela tem uma curva suave, como o lado arredondado de uma palheta de gota padrão, mas possui uma curvatura nos três lados, então é como se fossem três palhetas em uma.

GP: Você costumava dar aulas no Musician's Institute, em Los Angeles, e criou o curso de guitarra do LA Music Academy. Os jovens guitarristas de hoje são diferentes daqueles dos anos 80?
Considero-me uma pessoa sem formação acadêmica, mas estudei sozinho e consegui me destacar. Eu não ia bem nas aulas de música no colégio. Não preciso de um diploma para saberem que sei tocar. Parei de dar aulas no LA Music Academy há dois anos. A administração me disse que os estudantes estavam reclamando que o curso era difícil demais. Mas será que eles realmente estudavam o material? Se estudassem, poderiam aprender alguma coisa. Mas, como a maioria das escolas, o LA Music Academy é um negócio e sua preocupação por uma educação melhor vem depois de suas preocupações financeiras. Eu diluí o curso uma vez, mas eles ainda reclamaram, e não me incomodei em diluir ainda mais o que concidero conceitos fundamentais, necessários para quem quer ser um músico bem treinado. Busco excelência, e não o mínimo denominador comum.

GP: Como um instrumentista pode fazer o uso de sua rotina de estudo no palco?
Quando você esta em casa praticando, ultiliza o lado esquerdo do cérebro, fazendo seu trabalho com teoria e conhecimento do braço. Mas, quando você sobe ao palco, precisa esquecer de tudo isso. Você não pode ficar pensando durante um show. Como a guitarra é um instrumento muito visual e estamos acostumados com desenhos, sugiro estudantes apagar a luz e tocar no escuro com um bateirst e um baixista. Dessa maneira, você tem de usar seu ouvido e responder ao que esta escutando. Ou você pode simplismente fechar os olhos e, assim terá uma chance maior de penetrar no lado direto e criativo do cérebro.


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