quinta-feira, 28 de abril de 2011

Entrevista com o virtuose Vinnie Moore

Setembro de 2010 me deixou grandes lembranças. Sinceramente, não havia acompanhado quais os nomes que estariam se apresentando na expomusic, todos sabem que as figurinhas carimbadas como Kiko Loureiro, Edu Ardanuy, Juninho Afram sempre estarão lá, mais é legal se deparar com um ou outro nome internacional tocando em alguma "esquina" do Expo Center Norte. Nesse dia chegamos cedo, e a logo fomos conferir os horarios de apresentação nos stands mais famosos. Sessão de autografos com Kiko Loureiro, Apresentação de Rafael Bittencourt no stand da Yamaha, fui anotando tudo, mas quando cheguei ao stand da Deen observei uma nome e desse a minha noiva Juliana: - Esse não perco de jeito nenhum!


A primeira vez que Vinnie Moore apareceu nas páginas da Guitar Player americana foi na edição de Janeiro de 1985, quando sua demo, contendo um estilo neoclássico eletrizante e insano, chamou a atenção de Mike Varney, fundador da Shrapnel Records e famoso divulgador de virtuoses da guitarra. Varney, cuja coluna ajudou Yngwie Malmsteen, Tony MacAlpine, Paul Gilbert, Jason Becker, Marty Friedman e Greg Howe, estava "absolutamente certo de que Ninnie, um dia, encontraria seu lugar no hall da fama da guitarra".


(Foto tirada pela mulher mais linda do mundo - Te amo Juliana!)

Após 26 anos, parece que Varney estava 50% certo. O primeiro álbum-solo de Moore, Mind's Eye, lançado pela Shrapnel em 1987, provou que Vinnie era um guitarrista inovador e de primeira linha, posição que alcançou graças e gravações, turnês, clínicas, vídeos instrutivos e uma breve passagem como sideman de Alice Cooper. Porém, desde 2003, Vinnie tem se destacado em outro trabalho, ocupando o lugar antes pertencente a Michael Schenker na lendária e seminal banda britânica de metal UFO.


No ano de 2009, Moore estava em jornada dupla, compondo os riffs matadores do último lançamento do UFO, The Visitor, e explorando cenários musicais mais refinados em seu álbum-solo instrumental To the Core. Esses discos foram lançadfos em um intervalo de poucos dias entre eles. Ao ouví-loa, é possível entender como essa duplicidade funciona tão bem na carreira de Moore. Resumindo, Vinnie Moore é um guitarrista extremamente versátil, que consegue tocar frases velocíssimas e complexas, mas sem prescindir de seu notável senso melódico e composicional. Ou como tem dito o perspicaz Varney durante todos esses anos: "O estilo de Moore se equilibra entre linhas cuidadosamente construídas e uma espontaniedade selvagem".
Confira a entrevista que a Guitar Player fez com o guitarrista:

GP: Tendo em vista que a guitarra executa as melodias em To the Core, você passou muito tempo aprimorando seu fraseado para que soasse como um cantor?

Vinnie: Isso depende. Algumas vezes, ouço a melodia em minha cabeça, pego a guitarra e tudo vem à tona. Mas há ocasiões em que percebo que tenho um bom conceito melódico que precisa de uma apimentada. Quando toco algo muito certinho, fica parecendo que estou apenas lendo a música e não interpretando. Quando isso acontece, é melhor começar a experimentar diferentes maneiras de frasear, palhetar e executar bends. A beleza da guitarra da guitarra está em você sempre poder tocar uma mesma melodia em diversas maneiras. A região onde você toca, como executa bends, a intensidade do vibrato - são coisas que afetam não apenas o som, mas também a maneira como a melodia será sentida.

GP: Imagino, então, que você não sea o maior dos adeptos da palhetada alternada.

Vinnie: Não. Realmente, uso bastante palhetada alternada, mas tenho ultilizado mais palhetada híbrida, segurando a palheta com o polegar e o indicador e usando também o dedo médio para atacar as notas. por exemplo, se estou tocando terças quebradas em cordas adjacentes, geralmente alterno entre a palheta e o dedo médio. Quando eu era mais jovem, meu professor costumavatocar dessa maneira, entãoacho que acabei pegando isso inconscientemente. Eu até havia deicado de lado por um tempo, mas acabou retornando naturalmente ao meu estilo. Também notei que tenho movimentado mais o cotovelo do que o pulso quando não estou palhetando.

GP: Qual papel sua mão da escala desempenha em seu fraseado?

Sou canhoto, mas toco a guitarra como destro, então acabei ficando com a minha mão mais forte na escala, o que ajudou muito nos fraseados com ligados. Também sou muito rigoroso com a posição do polegar atrás do braço. Minhas mãos não são grandes, então preciso do máximo de alcance possível.

GP: Você poderia comentar sobre sua técnica de alavanca?

Não sou daqueles que executa mergulhos radicais. Uso a alavanca mais para colorações sutis de vibrato. Ás vezes, movimento o trêmulo em acordes, somente para dar mais um pouco de expressão. Posso também iniciar uma nota com a alavanca abaixada e depois fazer essa nota subir até o som correto. Outras vezes, puxo totalmente o trêmulo para trás e dou somente algumas batidas para proporcionar um leve sustenido às notas.

GP: Sendo um guitarrista tão melódico, você enxerga o braço de alguma maneira diferente do que apenas desenhos de escala?

Quando comecei a tocar, meu professor me fez aprender todas as escalas em todas as posições, de modo que eu pudesse sempre tocá-las em qualquer tonalidade, independente da posição do braço. Na verdade, não enxergo mais o braço em termos de escala. Vejo todas as notas e penso quais posso tocar na tonalidade em que estou. Além disso, passei muito tempo improvisando sobre o que estivesse tocando na hora. Mas é algo que só se aprimora na com o tempo. Você tem de cultivar sua biblioteca de licks e fraseados.

GP: É difícil ser, ao mesmo tempo, artista-solo e guitarrista principal de uma banda lendária de hard rock?

Não é nenhum pouco difícil, pois estou sempre sempre compondo ou tocando e preciso das duas bandas para utilizar todas as minhas idéias. O UFO é uma banda de rock tradicional e direta, então fica muito mais evidente quando uma composição não vai funcionar. Meus projetos-solo sao muito diversificados e minhas idéias mais diferentes acabam indo geralmente para eles.

GP: Mas existem algumas surpresas em The Visitor, como a introdução bluseira de Saving Me.

Foi feita com um violão de cordas de aço dobrado com um violão Dobro, ambos afinados em G aberto. Adoro essa introdução, pois é um exemplo perfeito do que mais me empolga atualmente em termos de composição: fazer algo estilisticamente diferente ou novo. Além disso, na música Rock Ready, exploro o slide de uma forma muito mais profundado que em minhas gravações anteriores. Em To the Core, os divertidos grooves de R&B em transcedence e Soul Caravan possuem em vibe hip-hop que eu nunca havia explorado muito.

GP: Você já trabalhou com músicos extraordinários, como jordan Rudess, Dave LaRue, Stev Smith, Bernie Worrell, Will Calhoun, Andy West, Alice Cooper e Phil mogg. De que maneira esses músicos não-guitarristas influenciaram seu estilo?

É difícil colocar isso em palavras, mas percebi que, quanto mais gravava com pessoas desse calibre, mais isso me ajudava a me aprimorar no que faço. Uma coisa que aprendi com muitos desses caras é ser mais objetivo e ir direto ao ponto nas gravações. Tenho a tendência de ficar obcecado com as coisas - fico incomodado demais se toco uma frase um pouquinho atrasado no tempo ou algo assim. Se me deixarem, fico refazendo as coisas sem parar. É um circulo vicioso porque, quanto mais obcecado você fica com algum detalhe, mais exigente você se torna. Hoje, acho melhor fazer as coisas logo e pronto. Mesmo que as imperfeições continuem a surgir, voc~e tem de aprender a saber quando elas não são importantes.



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