Abaixo segue uma entrevista muito bacana que Marc nos concedeu:
ATG - Quem é o guitarrista Marc Snow?
Marc - Um cara muito aficionado pela guitarra, que vem tocando à quase três décadas e que continuará tocando enquanto estiver vivo!
ATG - Marc, como começou sua relação com a música e guitarra?
Marc - A veia da música vem da minha família por parte de mãe. Meu avô tocava piano, orgão, saxofone, violão, acordeon e bateria.
Minha mãe tinha um antigo violão Digiorgio em casa, que el a arranhava às vezes. Até meus 11 anos eu era o tipo do cara que não fazia nada, não curtia esporte, música nada...
Aí, um belo dia eu vejo um anúncio na tv de um baterista espancando a bateria em cima de um tanque de guerra dando tiros e um cara cantando que parecia um demônio... Era a chamada para o show do Kiss no Brasil em 1983.
Eu passava o dia inteiro na frente da tv esperando passar o anuncio de novo. Não fui no show pela pouca idade. Mas vi o show na televisão. Naquela época não havia evento desse porte no Brasil... e eu sabia que ali estava tudo o que eu queria fazer da minha vida.
Com isso, comecei a comprar todos os discos que havia do KISS e comecei a tentar reproduzir tudo no violão, sozinho, de ouvido, pois não tinha quem ensinasse e nem veículos para isso como tem hoje pra criançada: internet, youtube, guitar pro...
ATG - Quais são suas principais influencias?
Marc - Ace Frehley foi a minha maior influência no começo. Sei tudo da época dele no KISS. Depois mais tarde, fui saber que Paul Gilbert, Marty Friedman e Dimebag Darrel estudaram e tiraram tudo dele também quando tinham a minha idade (pena que os três tiveram sorte na vida e eu não).
Assim como o Kiss e com o gosto pelo Hard Rock (estilo o qual curto até hoje), surgiram outros guitarristas que ouvi bastante como Warren De Martini (Ratt), Derek Frigo (Ex- Enuff Z'nuff), Vinnie Vincent (KISS), Jake E. Lee (Ex - Ozzy Osbourne) e Steve Stevens (Billy Idol).
ATG - Você é um guitarrista muito técnico, e consegue aliar muito bem velocidade e precisão. Como foi seu processo de aprendizado (professores, escolas)?
Marc - Bom, primeiramente, não me acho muito técnico e NÂO consigo aliar muito bem velocidade e precisão, apesar de gostar muito e admirar quem consegue.
Com certeza pela falta de oportunidade, e pela escolha de uma fonte de renda mais segura, num país onde não se valoriza arte e criação, especificamente falando aqui de música.
Como falei anteriormente, comecei a tocar de ouvido. Antes de comprar a primeira guitarra tive uns dois meses de aula com uma "professora de música, formada, professora de violão" que, depois de tentar tirar um dedilhado do KISS (fiz um teste com a mulher) e não conseguir, mandei ela passear!
Depois fui ter aulas com um cara que adorava blues mas ME PEDIU para tirar para ele uma passagem de uma música do Celso Blues Boy que ele não conseguia tirar! Foi pro saco também. Depois tive umas quatro aulas com o Alex Martinho isso no inicio dos anos 90, e foi isso: Passei a comprar e copiar tudo o que era video aula da REH Music e estudar.
ATG - Qual o seu setup de guitarras e efeitos atualmente e qual o caminho trilou para chegar até ele?
Marc - Hoje meu setup consiste em duas Jacksons U.S.A. (uma Soloist SL2H Transgreen e uma Randy Rhoads Lightning Sky). Para gravar uso um rack da Fractal Axe FX II e tenho alguns pedais. Meu amp é um Peavey Triple X 100watts com uma caixa 2x12 da Randall.
O caminho foi bem árduo até chegar aqui. Minha primeira guitarra foi uma Tonante, depois foi uma Gianinni Super Sonic, depois uma Dolphin. Em 1992 comecei a trabalhar e comprei minha primeira Jackson, uma Soloist XL Professional. Junto com essa ultima tive ao mesmo tempo uma RX10, e uma Dinky Pile o' Skulls. Ao mesmo tempo tive três Les Paul's pelo fato de ter uma Kiss Cover na época fazendo Ace Frehley na banda: Uma Epiphone ace Frehley Signature, uma Condor CLP II e uma Phoenix apenas para soltar fumaça durante o solo do Ace Frehley no show.
Quando vim para São Paulo em 2007, vendi tudo. Depois comprei as duas USA mencionadas à cima.
Pedais são compra e venda constantes.
ATG - Em seus vídeos, observamos a presença constante de guitarras Jackson. Qual a sua relação com a marca e quais as características lhe atraem nessas guitarras?
Marc - A relação com a marca é de amor unilateral (da minha parte no caso), pois ja vi cada "ser" sendo "endorser" por acaso e não ter nem a décima parte dessa obsessão que tenho, muito menos competência. Mas esse assunto de endorser é longo e, no Brasil, como a maioria das coisas, não é levado de forma séria.
O que me atrai nas Jacksons U.S.A. é a espessura do braço, a escala em ébano, o neck binding, a Floyd Rose U.S.A. e o design do headstock (que foi a paixão à primeira vista.) Mas a tocabilidade de uma Soloist é fenomenal.
ATG - O que gosta de ouvir nos momentos livres?
Marc - Na verdade eu escuto o que sempre escutei desde que comecei a gostar de música e tocar guitarra: Hard Rock e Metal (em menos quantidade). Alguns guitarristas em trabalhos solo também, pois é onde eles conseguem mostrar mais sua técnica e composição sem se prender a uma banda.
O que é interessante é você ter o "ouvido de aprendiz" e não o ouvido de leigo. No primeiro, você vai desfrutar da musica estando focado no que o guitarrista está fazendo, quais as técnicas está utilizando, etc...
ATG - Sua atitude de "perder" um pouco de seu tempo com vídeos didáticos para guitarristas que pretendem ampliar seus conhecimentos é extremamente louvável. Seus vídeos tem explicações muito claras com assuntos totalmente funcionais para quem está em busca de novos horizontes em seus improvisos e fraseados. Como surgiu essa ideia?
Marc - Essa ideia surgiu da vontade de ensinar e principalmente "compartilhar". O mundo de hoje é extremamente competitivo, não há dúvida disso. Mas não é o fato de você, passando conhecimento nessa área, que vai fazer com que pessoas saibam mais que você e "tomem seu lugar".
Até porque, guitarristas bons estão surgindo a cada minuto no anonimato.(Ao mesmo tempo que guitarristas não tão bons ou expressivos, digamos assim, tem aceitação com uma marca, chamam atenção em algum canal, simplesmente porque participou de um concursinho onde, ao invés de ser julgado por composição, destreza, técnica, versatilidade, etc... é julgado por likes num vídeo que podem ser dados por toda sua família, amiguinhos da escola, contas falsas, sub4sub, etc...)
Então não existe "fulano vai tirar o lugar de cicrano", apesar de ainda você ver gente que não dá aula, nem, mesmo recebendo por isso, para não divulgar a "sua técnica única, incomparável e divina". Desculpe o termo mas é ridículo.
O que eu puder fazer para compartilhar estarei fazendo. sempre!
ATG - Qual sua abordagem didática como professor?
Marc - Na verdade, eu tento explicar o pouco que sei, da forma mais "esmiuçada" possível, afim de que possa passar ao aluno ou ao colega guitarrista, a mesma informação que é jogada de forma igual e repetida inúmeras vezes na internet. Quando mais "coloquial' for a abordagem, mais pessoas conseguirão tirar proveito da informação.
ATG - Em sua opinião, qual a importância do timbre de guitarra para o músico?
Marc - Na minha opinião, o timbre do guitarrista deve condizer com o estilo que ele está tocando, e ele deve conseguir isso utilizando o bom senso.
Lógico que existem vários fatores que influenciam o timbre como um bom setup, cordas boas e sempre novas, cabos de boa qualidade, a atenção à cadeia de sinal, etc...
Agora, como falei à cima, sempre utilizando o bom senso, o músico deve procurar regular seu timbre de forma lenta e paciente, estudando frequências, para que se aproxime ao máximo ao som que deseja.
ATG - Além dos vídeos, participa ou já participou de trabalhos com bandas?
Marc - Sim. Toquei muitos anos com uma banda, ainda no Rio que foi do fim dos anos 80 aos meados dos anos 90. A banda tinha um projeto paralelo como Kiss Cover. Depois participei de uma Poison Cover e uma L.A. Guns Cover. Montei mais uma banda fazendo um projeto autoral com o meu nome para ver a saída. O cd seguinte à esse projeto foi a minha banda, SNOW, de hard rock, onde assinei um contrato com uma gravadora na Inglaterra que distribuiu o cd em toda a Europa. Mas ao vir para São Paulo a banda se desfez. Como era eu quem compunha tudo, a banda até tentou continuar sem mim, mas, sem 99% de representação ativa, como iria continuar?
O cd você ainda encontra na internet a venda em sites como Ebay, etc...
ATG - Quais as dicas que pode deixar para aqueles que estão começando no meio musical e se espelham eu seu trabalho?
Marc - Estude, sempre, sem achar que já é o suficiente. Procure sempre aproveitar algo de outros guitarristas, mesmo que não seja o estilo que você curte.
Não se abata pelas injustiças que ocorrem no meio da música, pois existem, e em grande número e grau.
Procure pessoas sérias para se espelhar, músicos sérios, não crianças com pouca bagagem e aparição em um evento anual apenas.
Procure pessoas que te ajudam, que compartilham conhecimento, que SOMAM, e não aquelas que segregam pois tem o rei na barriga.
No nosso país não existe mainstream, portanto, tirando uma boa minoria, estamos todos no mesmo barco. Isso é o que muitos não entendem!